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  • quarta-feira, 24 de julho de 2013

    SOCIEDADE SEM RAÇAS - NUMA CONCISA COGITAÇÃO ESPÍRITA


    Jorge Hessen
    http://aluznamente.com.br
    Para a ciência contemporânea o conceito de raça é abstrato e agressivo, pois raças humanas não existem como entes biológicos. É agressivo porque a concepção de raça tem sido usada para abonar discriminação, opressão e barbaridades. “As raças não existem, mas a mentalidade relativa às raças foi reproduzida socialmente”. (1) Do ponto de vista espírita, a percepção de que o homem possa (re) encarnar na condição de branco, negro, mulato ou índio, estabelece uma ruptura com o preconceito e a discriminação.
    Infelizmente, ainda hoje na Grã-Bretanha adeptos do “neo-espiritualismo” recusam a tese da reencarnação, por não aceitarem a probabilidade de terem tido encarnações em posições inferiores quanto à raça e à condição social. Sob a ótica dos princípios espíritas, “apaga-se, naturalmente, toda a distinção estabelecida entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor”. (2) O Espiritismo não compactua, sob quaisquer pretextos, com ideologias que visem o apartheid étnico entre os grupos sociais.
    A afirmação das raças biológicas multicoloridas tem sido cada vez mais rejeitada pela genética. Os pesquisadores descobriram que a natureza genética de todos nós é idêntica o bastante para que a mínima porcentagem de genes que se caracterizam na aparência física, cor da pele etc... invalide a composição da sociedade em raças. Isso porque o acanhado número de genes desiguais está comumente conectado à adequação do indivíduo ao tipo de meio ambiente em que vive.
    Os brasileiros atualmente mostram-se, aparentemente, menos preconceituosos do que há duas décadas. Contudo, reconhecemos o preconceito no outro, mas não em nós mesmos. Ou, como já definiu a historiadora da USP, Lilia Moritz Schwarcz, “todo brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados”. (3) É preocupante constatar que a ambivalência se mantém. Parece que os brasileiros jogam, cada vez mais, o preconceito para o outro. Eles são, mas eu não. Irrisão!
    O pesquisador Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, atesta que a cor da pele, como socialmente percebida, tem pouca relevância biológica. “Cada brasileiro tem uma proporção individual única de ancestralidade ameríndia, europeia e africana”. (4) Para os geneticistas, “a conclusão de que a raça não está nos nossos genes pode ser mais uma ferramenta no combate ao racismo, já que corrige o erro histórico dos cientistas do passado”. (5)
    A discussão é muito pertinente em um momento em que ações afirmativas fundamentadas em conceitos raciais, como a lei de cotas, surgem para tentar corrigir os problemas sociais ligados ao racismo. A Constituição do Brasil estabelece que “ninguém terá tratamento desigual perante a lei e o acesso ao ensino superior se dará por mérito”. (6) As cotas para negros nas universidades, desde sua implantação no Brasil, em 2002, têm dividido opiniões. Pouco mais da metade da população, ou melhor, 51%, são favoráveis à reserva de vagas para negros, mas, paradoxalmente, 86% defendem as cotas para pessoas pobres e de baixa renda, independentemente de raça.
    O mapa estatístico retrata que 53% dos brasileiros creem que estabelecer cotas para negros é humilhá-los. Todavia, contraditoriamente, 62% concebem que elas são fundamentais para ampliar o acesso de toda a população à educação. Contudo, 62% dizem que essas cotas podem gerar atos de racismo. Em verdade, “a sobrevivência da ideia de raça é deletéria, por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor”. (7)
    No bojo da literatura basilar da Terceira Revelação, Kardec ressalta que, “na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza, o princípio da fraternidade universal também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade”. (8)
    Num artigo publicado na Revista Espírita, de abril de 1862, “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da raça negra” (9), Kardec faz uma espécie de releitura dessa “ciência”, com um enfoque espiritualista, demonstrando que o “atraso” dos negros (habitantes da África à época) não se deveria a causas biológicas, mas por seus espíritos encarnados ainda serem, relativamente, jovens.
    Porém, sem dúvida alguma, o racismo brasileiro, ainda escamoteado e acobertado pelo mito da “democracia racial”, é um estigma, uma nódoa presente na mente dos brasileiros, e que faz parte do cotidiano de todos nós. Deus não concedeu superioridade natural aos homens, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante d’Ele, todos são iguais. Dessa forma, é mais do que lógico o próprio negro entender que somente ele poderá conquistar seu espaço nas diversas áreas do conhecimento. Ninguém fará por ele aquilo que deve ser feito para o seu próprio bem estar, e isso vale para todas as raças.
    A verdade é que nos grandes debates de cunho sociológico, antropológico, filosófico, psicológico etc., o Espiritismo provocará a maior revolução histórica no pensamento humano, conforme está inscrito nas questões 798 e 799 de O Livro dos Espíritos, sobretudo quando ocupar o lugar que lhe é devido na cultura e conhecimento humanos, pois seus preceitos morais advertirão os homens da urgente solidariedade que os há de unir como irmãos, apontando, por sua vez, que o progresso intelecto-moral na vida de todos os Espíritos é lei universal e tendo por modelo Jesus, que, ante os olhos do homem, é o maior arquétipo da perfeição que um Espírito pode alcançar. (10)



    Referências bibliográficas:

    (1)            Disponível em  http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/ciencia-busca-explicacoes-sociais-e-biologicas-para-explicar-o-preconceito.htm acesso em 20/07/13
    (2)            Kardec, Allan. Revista Espírita de abril de 1861 págs. 297-298
    (3)            Disponível em http://zelmar.blogspot.com.br/2010/09/todo-brasileiro-se-sente-uma-ilha-de.html  aceso em 22/07/13
    (4)            Disponível em http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-humanas-nao-existem-como-entidades-biologicas-diz-geneticista.htm acesso em 15/07/13
    (5)            Disponível em http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02/05/racas-humanas-nao-existem-como-entidades-biologicas-diz-geneticista.htm acesso  em 18/07/13
    (6)            Constituição Federal, Editora Saraiva.
    (7)            Sérgio Pena, autor do livro “Humanidade Sem Raças?” (Publifolha, 2008), da Série 21
    (8)            Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, pág. 31
    (9)            Publicado na Revista Espírita, artigo “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da raça negra”, de abril de 1862
    (10)          Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003, parte 3ª, q. 798 e 799, cap. VIII item VI – Influência do Espiritismo no Progresso.

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