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  • sábado, 23 de dezembro de 2017

    Será que há espíritos de “crianças” nos domínios do além tumba? (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    Jorgehessen@gmail.com

    Um objeto de estudo instigante, cuja explicação devemos ao Espiritismo, diz respeito à situação da “criança” no além após a sua morte. Será que há “crianças” no além? E o “bebê”, como será a sua forma perispiritual quando desencarna? Será que o seu períspirito retoma a forma “adulta” ou por quanto tempo permanece “bebê” e ou “criança” no Além-túmulo? Há muitas interrogações sobre o que ocorre com as “crianças” recém-desencarnadas. Como “ela” se adapta no Mundo dos Espíritos? Sim, são inúmeras dúvidas.

    Cremos que “crianças” no além são imediatamente recolhidas por familiares ou mentores, que lhes darão ampla assistência. Se são Espíritos com ótima bagagem moral, retomam a personalidade anterior. Se são de mediana evolução, acreditamos que conservam a condição infantil, que será superada com o decorrer do tempo, como sucede com as “crianças” na Terra. Podem, também, retornar à reencarnação.

    Porém, pasme, segundo um famoso escritor espírita, “não há uma única manifestação mediúnica de criança nas obras de Allan Kardec”. Portanto, afirma que não existem “Espíritos crianças”, pois o período de infância, adolescência, maturidade e envelhecimento, é uma condição do corpo físico, que obedece a esse processo orgânico de maturação, próprio dos nativos do planeta Terra.

    Será? É urgente contar ao notório e equivocado confrade que o Codificador publicou comunicação do Espírito de uma criança na Revista Espírita de 1859. E ainda registrou a manifestação do Espírito do menino Marcel, conforme publicado na obra “O Céu e o Inferno”, cap. 8, parte II. Aliás, antes de Kardec, encontramos personagens históricos que mencionam os espíritos de “crianças” no além. A exemplo de Swedenborg, que descreve “crianças” sendo bem recebidas no além nas instituições onde adolescem e são cuidadas por jovens mulheres. Há distintos precursores do Espiritismo que fazem alusões às “crianças” no além, a saber: Louis Alphonse Cahagnet, na França e Andrew Jackson Davis, nos EUA.

    André Luiz apresenta no cap. X do livro “Entre a Terra e o Céu” acurados painéis de crianças desencarnadas. Cairbar Schutel apresenta as “crianças” no além tumba no seu livro “A Vida no Outro Mundo”; Frederico Figner (Irmão Jacob) faz menções a “crianças” no além, conforme agenda no livro “Voltei”. Informações confirmadas por Yvonne Pereira em “Cânticos do Coração, Vol II”e George Vale Owen, na obra “A vida Além do véu”, dentre outros.

    Na questão 381 de O Livro dos Espíritos, o Codificador questiona aos Espíritos se na morte da criança, o ser readquire imediatamente o seu antecedente vigor. Os Benfeitores aclaram o tema afirmando que o Espírito não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado do envoltório físico. E nas questões 197, 198, 199, 346 e 347, da mesma obra básica é explicado que o Espírito da “criança” não é infantil, e sim reencarnação de Espírito que teve outras existências na Terra ou em outros orbes. Especificamente na questão “199-a”, os Espíritos inquiridos por Kardec sobre o destino espiritual da criança que morre bebezinho, anotaram que o Espírito “recomeça outra existência”.

    No entanto, antes do reinício de nova existência física, tais Espíritos são recolhidos em Instituições apropriadas. Há apresentações psicográficas citando escolas, parques, colônias e instituições diversas consagradas ao acolhimento e amparo às “crianças” desencarnadas. E ademais, ao reencarnar o Espírito entorpece a consciência e somente finalizará o processo reencarnatório a partir dos sete anos aproximadamente, quando se remata a reencarnação. Por isso, se a criança desencarnar no meio do processo reencarnatório, ou seja, entre os 3 anos e 4 anos, o Espírito possivelmente possa retomar imediatamente a forma adulta precedente.

    Também devemos considerar o seguinte: se a “criança” desencarnada possui grande experiência no campo intelecto e moral, readquire rapidamente os valores parciais da memória, logo após a desencarnação, conseguindo, por isso, ordenar conceitos e anotações de acordo com a maturação intelectual alcançada com seus empenhos.

    O mesmo não sucede com “criança” desencarnada que ainda não possui condição moral elevada. Em tal estágio, o desenvolvimento no além-túmulo é idêntico ao que se processa no plano físico, quando o Espírito é constrangido a aprender pausadamente as lições da vida e avançar gradualmente, segundo as injunções do tempo.

    Morre o corpo infantil (em qualquer faixa etária), e sobrevive o Espírito imortal e eterno, com toda uma bagagem de aquisições intelectuais e morais advindas das múltiplas experiências reencarnatórias, e que integram a sua individualidade.

    Recordemos que a almas ainda prisioneiras no automatismo inconsciente acham-se relativamente longe do autogoverno. Em face disso, permanecem transportados pela Natureza, à maneira de bebês no colo materno. É por esse motivo que não se pode prescindir de períodos de recuperação para quem desencarna na fase infantil. Porquanto, precisarão continuar aprendendo, estudando e recebendo esclarecimentos espirituais adaptados à sua idade e compreensão, e serão separadas por faixas de idade e entendimento, tal como ocorre aqui na Terra.

    Nas fontes que examinamos, não encontramos informações de Espíritos de “crianças” nas regiões “umbralinas” – ainda bem!

    Temos muito que aprender com os Espíritos.

    150 anos de A Gênese - a fidedignidade das primeiras edições



    Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

    Com A Gênese completa-se o quinto volume das chamadas Obras Básicas da Codificação. Allan Kardec discorre sobre questões importantes que destaca no subtítulo: os milagres e as predições segundo o Espiritismo; e analisa a origem do planeta de acordo com as leis da Natureza e a interpretação espírita.A edição da Revista Espírita de janeiro de 1868 anunciava que o livro A Gênese estaria à venda no dia 6 de janeiro de 1868.
    O exemplar da Revista Espírita, de fevereiro de 1868, trazia uma dissertação do espírito São Luís sobre a nova obra:
    “A religião, antagonista da Ciência, respondia pelo mistério a todas as questões da filosofia céptica. Ela violava as leis da Natureza e as adaptava à sua fantasia, para daí extrair uma explicação incoerente de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis. [...] A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em consequência, interessar a todos os espíritos sérios.”1
    Ao longo do ano de 1868 transcreveu vários trechos dessa nova obra naRevista Espírita. Surgem notícias sobre duas novas edições: 2a edição (março) e 3a edição (abril). Até a desencarnação de Kardec (1869), constam referências a três edições dessa Obra Básica do Codificador.1,2
    A maioria das traduções para o português foi feita a partir de edição francesa do ano de 1870, ou seja, após a desencarnação de Kardec, como as edições da FEB do IDE. Apenas a editora do Centro Espírita Léon Denis, do Rio Janeiro, lançou uma tradução da edição francesa de 1868.
    Há dúvidas e polêmicas a respeito das edições dessa obra em francês, lançadas logo após a desencarnação do Codificador.
    Recentemente, a Confederação Espírita Argentina (CEA) providenciou a edição em espanhol de versão pioneira de A Gênese, isto é, a lançada em janeiro de 1868. Ao mesmo tempo a CEA divulgou o resultado de estudos que estimulou, e divulgou em publicação lançada em Buenos Aires em outubro de 2017 e distribuiu uma carta explicativadurante reunião da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional, ocorrida em Bogotá (Colômbia), em outubro de 2017, com divulgação de carta do presidente da Confederação Espírita Argentina. Consta a informação de que a tradução de A Gênese teria sido motivação de um questionamento em um momento da reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 2017.
    A nosso ver são louváveis as providências do presidente da Confederação Espírita Argentina em divulgar o resultado do estudo que apoiou e em levar a questão ao CEI.
    A CEA solicitou uma pesquisa à sra. Simoni Privato Goidanich, junto aos Arquivos Nacionais da França e na Biblioteca Nacional da França, localizadas em Paris, assim como na própria CEA e na Associação Espírita Constancia, de Buenos Aires. A conclusão da pesquisa é que um único exemplar, publicado em 1868, foi depositado legalmente durante a existência física de Allan Kardec na Biblioteca Nacional da França. Assim o Codificador não teria modificado o conteúdo.4 Estes esclarecimentos se encontram no livro El legado de Allan Kardec, de autoria de Simoni Privato Goidanich, lançado na sede da C.E.A., em Buenos Aires, aos 3/10/2017.5
    Assim, reaparecem dúvidas que já existiam sobre a fidedignidade da versão francesa que serviu de base para as traduções de A Gênese.
    Há suspeitas de que alguns trechos de A Gênese poderiam ter sido alterados provavelmente por Pierre-Gaëtan Leymarie (1827-1901). Com a desencarnação de Kardec, este dirigente passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901), gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897) e foi presidente da “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”.2,6 Passou a cuidar das edições e autorizações de traduções de obras de Kardec.2
    Inclusive, há o caso das traduções pioneiras das obras de Kardec, em nosso país. No princípio do ano de 1875, Pierre-Gaëtan Leymarie autorizou em carta ao dr. Joaquim Carlos Travassos a tradução das obras de Allan Kardec para o português, cuja correspondência foi publicada naRevista Espírita. Com exceção de A Gênese, Joaquim Carlos Travassos (1839-1915) utilizando o pseudônimo de "Fortúnio", traduziu para o português quatro obras básicas da Codificação, publicadas pela Editora B. L. Garnier, do Rio de Janeiro, em 1875 e 1876.Fato interessante foi o comentário de Zêus Wantuil em biografia sobre o tradutor Travassos: “[...]sem nos referirmos ao bom estilo do tradutor, é o judicioso esclarecimento, de fundo rustenista, que vem na obra ‘O Céu e o Inferno’...”6 Há correspondências de Leymarie com a então novel Federação Espírita Brasileira e a 1aedição da revista Reformador, de janeiro de 1883, noticia que ele representou a França em congresso ocorrido em Bruxelas, objetivando a criação de uma União Espiritualista Universal.7
    Muitos fatos ressurgem agora com a tradução para o português de livro histórico e esgotado de autoria Berthe Fropo - Beaucoup de Lumière (1884) -, disponibilizado em edição digital bilíngue: a tradução em português e o original em francês. A autora foi espírita atuante, fiel aos ideais de Allan Kardec, muito amiga de Amélie Boudet, vizinha e apoiadora desta depois da desencarnação do codificador do Espiritismo.2 Nesta obra fica clara a ação polêmica de Leymarie, que inclusive foi envolvido no histórico “processo dos espíritas”, relacionado com exploração das chamadas fotos de espíritos, em que foi condenado.
    No referido livro, Berthe Fropo aborda pontos destacados do desvirtuamento doutrinário ocorrido no movimento espírita francês logo após a desencarnação de Kardec, comprometendo a continuação das obras do Codificador da Doutrina; fica claro que “com o aval de Amélie Boudet, Gabriel Delanne e Berthe Fropo se lançaram numa investida para reavivar os planos de continuação das obras de Kardec, que nas mãos de Leymarie haviam sido deturpados, por influência de ideologias outras, como o roustainguismo e — ainda mais fortemente — a mística doutrina da Teosofia de Madame Blavatsky e do Coronel Olcott.”2
    Portanto, há indícios que robustecem as suspeitas sobre eventuais alterações promovidas por Leymarie em itens de A Gênese.
    Nas edições da FEB, apenas a traduzida pelo Evandro Noleto Bezerra, também a partir da 5a edição francesa de 1870, traz uma nota de rodapé no item 67 do capítulo XV, anotando que há uma diferença com relação à edição de 1868, com Kardec ainda encarnado. Justifica que “ao revisar a obra com vistas à 4a edição, Allan Kardec houve por bem suprimir o item 67 que constava nas edições anteriores”. Nessa nota de rodapé, de número 124, o tradutor Evandro transcreve o item suprimido em outras versões “pelo seu inestimável valor histórico, o item 67 das três primeiras de edições de A Gênese”.8Porém como fica a afirmação de revisão da 4a edição, feita por Allan Kardec?
    Na edição do Centro Espírita Léon Denis, a tradutora Albertina Escudeiro Sêco, se baseia numa 4a edição francesa, de 1868.
    Essa tradutora do CELD introduz o item 67 original, a saber:
    “67. A que se reduziu o corpo carnal? Este é um problema cuja solução não se pode deduzir, até nova ordem, exceto por hipóteses, pela falta de elementos suficientes para firmar uma convicção. Essa solução, aliás, é de uma importância secundária e não acrescentaria nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que atestam, de uma maneira bem peremptória, sua superioridade e sua missão divina. Não pode, pois, haver mais que opiniões pessoais sobre a forma como esse desaparecimento se realizou, opiniões que só teriam valor se fossem sancionadas por uma lógica rigorosa, e pelo ensino geral dos espíritos; ora, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle. Se os espíritos ainda não resolveram a questão pela unanimidade dos seus ensinamentos, é porque certamente ainda não chegou o momento de fazê-lo, ou porque ainda faltam conhecimentos com a ajuda dos quais se poderá resolvê-la pessoalmente. Entretanto, se a hipótese de um roubo clandestino for afastada, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno dos transportes e da invisibilidade. (O Livro dos Médiuns, caps. IV e V.).” E surge um item 67, em geral ausente nas várias versões, e com uma renumeração aparece o item 68, identificado como item 67, nas demais traduções.9
    De qualquer maneira persistem os recentes questionamentos que mencionamos. O ideal seria que as editoras das obras de Allan Kardec somassem esforços para se esclarecer as dúvidas que vêm sendo aventadas. Os 150 anos do lançamento de A Gênese, poderiam ter como marco a clara definição sobre a fidedignidade das versões das primeiras edições desta obra em francês e se acrescentar nota(s) explicativa(s) nas edições traduzidas para o português.

    (*)  O autor é ex-presidente da FEB e da USE-SP

    Referências:
    1)  Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. Revista Espírita. Ano XI. No. 1. 1868. Rio de Janeiro: FEB.
    2)  Fropo, Berthe. Trad. Lopes, Ery; Miguez, Rogério. Muita luz. 1.ed. Edição digital:  www.luzespirita.org.br; acesso em novembro de 2017.
    3)  Kardec, Allan. Trad. Martínez, Gustavo N. La génesis. 1.ed. Buenos Aires: Confederación Espiritista Argentina. 2017.
    4)  Carta do presidente da Confederación Espiritista Argentina, Sr. Gustavo N. Martínez, de 14/10/2017, distribuída em reunião do Conselho Espírita Internacional, em Bogotá (Colômbia).
    5)   Goidanich, Simoni Privato. El legado de Allan Kardecgoo.gl/Pgdiad; acesso em novembro de 2017.
    6)  Wantuil, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 1.ed. Cap. Joaquim Carlos Travassos. Rio de Janeiro: FEB. 1969.
    7)  Reformador, Ano I, n.1, 21 de Janeiro de 1883, p.1-4.
    8)  Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. A gênese. 1.ed. Cap. XV. Item 67. Rio de Janeiro: FEB. 2010.
    9)  Kardec, Allan. Trad. Sêco, Albertina Escudeiro. A gênese. 3.ed. Cap. XV. Itens 67-68. Rio de Janeiro: Ed. CELD. 2010.

    Fonte: Revista eletrônica O CONSOLADOR, edição 548 link: http://www.oconsolador. com.br/ano11/548/principal. html

    quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

    “Alzheimer” - delongado e gradual processo de desencarnação (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    Jorgehessen@gmail.com

    Antigamente a doença de Alzheimer era vulgarmente conhecida como “caduquice” e tratada como um estado de demência progressiva. Caracterizada pela perda contínua das aptidões do indivíduo, como extermínio da memória, dificuldade na linguagem e no pensamento, ela afeta progressivamente as funções corticais do indivíduo, ocorrendo atrofia do cérebro e, por isso mesmo, as funções cognitivas e motoras são deterioradas irreversivelmente.

    Embora ainda não tenha cura, o uso de medicamentos como Rivastigmina, Galantamina ou Donepezila, junto com terapia ocupacional (estímulos), podem auxiliar no controle dos sintomas e retardar a sua progressão, melhorando a qualidade de vida do paciente.

    A “Alzheimer” é mais comum em idosos. No estágio inicial (leve) podem surgir sintomas como: dificuldade para lembrar os acontecimentos mais recentes (a lembrança de situações antigas permanece normal), dificuldade para achar o caminho de casa, não saber o dia da semana, repetir as mesmas perguntas. Na fase moderada, a pessoa apresenta incapacidade de fazer a higiene pessoal, anda sujo, tem dificuldade para ler e escrever, alterações do sono, troca do dia pela noite.

    Na etapa avançada o doente não consegue memorizar nenhuma informação atual e nem antiga, não reconhece os familiares, os amigos e locais conhecidos, nem as coisas do ambiente (agnosia), perdem a coordenação para os mais simples movimentos úteis, como vestir uma roupa (apraxia).

    Allan Kardec não fez referência à enfermidade, todavia cremos que o Espírito do enfermo permanece em estado parcial de “desdobramento”, pela impossibilidade de utilizar-se do cérebro que está em definhamento. São pessoas comprometidas com graves crimes morais de existências passadas. Certamente a rigidez de caráter (intolerância), a culpa, os processos obsessivos de subjugação, a depressão, o ódio e a mágoa realimentados a longo prazo podem ser matrizes admissíveis para a ocorrência do mal de Alzheimer.

    Naturalmente, o empenho da família em moléstias desse tipo é de elevada importância, tanto em relação à melhoria da qualidade de vida do paciente quanto do ponto de vista das demandas espirituais, pois seguramente o grupo familiar está coligado às “contas do destino criadas pelo mesmo”, por isso o imperativo da reparação.

    O tratamento espiritual é de essencial importância, inclusive para a família, pois os parentes sofrem muito com o gradual alheamento do ser querido, que passa por um processo lento, espesso, dolorido de perda de intercâmbio cognitivo com os familiares e amigos. É como um delongado e gradual “processo de desencarnação”.

    As presumíveis causas espirituais, como processos obsessivos e atitudes de intransigência moral, entre outras conforme mencionamos acima, recomendam a necessidade de ininterrupta diligência de esclarecimento espiritual, com leitura diária de páginas evangélico-doutrinárias e frequência, se possível semanal, à casa espírita para tratamento com passes e águas fluidificadas.

    Nessas penosas conjunturas os familiares e ou cuidadores têm a chance de desenvolver suas potencialidades espirituais como a resignação, a tolerância, a aceitação, a vigilância irrestrita ao enfermo, a renúncia, a submissão, o amor, que inequivocamente são tesouros morais adquiridos pelos que se dedicarem aos portadores da doença de Alzheimer.

    terça-feira, 12 de dezembro de 2017

    Jesus e a marcha da deformidade espírita (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen


    É comum localizamos em nossas hostes doutrinárias alguns confrades agindo semelhantes aos “crentes evangélicos” (da ala neopentecostal), talvez por “olho gordo”, exaltando inflamados o “nome” Jesus, a “imagem” do Crucificado, a “personalidade” do Messias, quase sempre sob argumentos desprovidos de coerência, comprovando desconhecimento dos códigos morais do Evangelho racionalmente explicados por Allan Kardec e os espíritos superiores. 
    Por causa do “cristianismo” arcaico, a figura de Jesus se caracteriza por debilitada representação simbólica e, como sabemos, todo símbolo que passa do tempo fica enferrujado, desgastado e perde a sua essência e sentido. É óbvio que reverenciamos o excelso valor de Jesus e O defendemos enquanto Verdade Maior, porém, sem afastar um milímetro da lógica kardequiana. 
    Encontramos no M.E.B. (movimento espírita brasileiro) muitos “espíritas” de sacristia, como dizia Arnaldo Rocha, ou seja, espíritas “rezadores” (artificiais e dissimulados), que muito reza (tagarelando) e não se cuida da própria honra.
    Conhecemos embustes de oradores que falam apaixonadamente sobre Jesus (chegam a chorar de emoção), que discursam sobre o valor da monogamia, na união familiar, todavia fazem andar a “fila” das esposas. Há ilustres palestrantes “espíritas” que insistem nos temas repetitivos, sempre sob a lideranças dos agenciadores de seminários improdutivos. Nessa inadvertência seguem algumas federativas (mal dirigidas) que insistentemente promovem congressos inócuos, pobres de conteúdos e onerosíssimos (não gratuitos) sempre destinados aos espíritas endinheirados.
    Em tais eventos (congressos soberbos e inóxios) expõe-se temas evangélicos recorrentes, desgastados, abarrotados de trivialidades e lugares comuns, defendidos com afetação e tradicionalíssimas vozes veludíneas banhada de camuflada emoção veiculadas por intocáveis palestrantes sacralizados, santificados e “insubstituíveis” ante os apelos idolátricos da frenética e delirante caravana de “espiritólicos”.
    Aliás, não obstante “carismáticos”, há oradores endeusados que fazem das palestras proferidas e a fama obtida nos escombros reivindicatórios da extravagante multidão de “espiritólicos”, uma execranda máquina de fazer dinheiro. Sim! São os confrades vendilhões do Espiritismo. 
    Neste cenário ainda há espaço para identificarmos “espíritas oba-oba”, espalhafatosos, recheados de fraternidade de boteco, sorrisos maquinais, comportamentos que contrastam com a simplicidade cristã. Isso tudo sem aprofundarmos nas práticas de diretores de órgãos oficiais (federativas) que se esgrimam (mentalmente) pela caça do poder de direção do M.E.B., totalmente distantes do exemplo edificante da humildade. Tais líderes intransigentes traem a si, aos amigos, ao M.E.B. e ao Espiritismo.
    Certificamos que o caminho do M.E.B. tem sido de duas vias: uma é ocupada pela chamada liderança oficial, dos espíritas autócratas, cheios de “não me toques”, repletos de salamaleques; a outra via é ocupada pelos espíritas “combativos” do bem, fieis a Kardec, lealdade essa que nada tem a ver com extremismo ou intolerância, mas compromisso com a verdade. 
    Os “combativos” fazem o trabalho de azorragar a “oficialidade”, de fustigar os eternos “donos” do M.E.B. para não os deixar comodamente em “berço esplêndido” sob os narcóticos da ilusão. Os “combativos” de Kardec são, por isso, mal vistos e execrados permanentemente, tidos como desagregadores , mas são eles que agem com a coragem e virilidade necessária para evitar a perda total de uma doutrina tão cara à humanidade.
    Quando se trata da moral, Jesus é o grande exemplo. Quando se trata de conhecimento espírita, Kardec é a verdade. Não pode haver mais espaço para o estereótipo de um Jesus decrépito, idolatrado, da tradição arcaica, pois o Espiritismo fez avançar no conhecimento de modo que sem o Espiritismo Jesus permanece no estado da incompreensão e da superficialidade do simbolismo sectário. 
    Portanto, jamais pode haver espaço para um Espiritismo segundo o Evangelho, pois o evangelho não pode explicar o Espiritismo ; ao contrário, apenas o Espiritismo pode explicar o evangelho. Como me ensinou um atilado espírita de vanguarda. 
    O futuro do Espiritismo está fixado nesse quadro contemporâneo, das lutas entre os que defendem os princípios kardequianos e os fracos, que mais se importam com os aplausos da plateia, com os resultados que agradam à audiência e os transformam famosos. A luz intensa da verdade os incomoda, daí a preocupação em defenderem-se para não perder o comando. Desfiguram o Espiritismo para se manterem na posse do “movimento espírita oficial”. 
    Cabe aos impávidos “combativos” do bem se contraporem a isso, mesmo sabendo que a luta é inglória sob o aspecto da capacidade de deter a marcha do embuste doutrinário. Mas como Jesus foi desfigurado e ainda se mantém deformado enquanto amor sem igual, o Espiritismo prosseguirá em sua desfiguração contínua, mas ao mesmo tempo se manterá firme e forte enquanto conhecimento fundamental para o despertamento da consciência humana.

    quarta-feira, 29 de novembro de 2017

    A dor é o chamamento ao cultivo do amor (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso"[1]Entendemos que a dor seja o medicamento que solicitamos na fronteira da experiência terrestre. Sim! Espíritos doentes e endividados que somos, imploramos, antes do berço, as dores e as provações capazes de propiciar-nos o regozijo da cura e a benção do resgate. Portanto, as dificuldades são benfeitoras do coração. Aceitemo-las no caminho, com o equilíbrio da resignação que tudo abrange para tudo auxiliar e expurgar, na marcha de nossa via crucis.
    A dor , seja física ou espiritual, é sofrida por quem a provoca e que jamais bate em porta errada. Não há razão, em hipótese alguma, atribuir a terceiros a culpa de nossas dores, pois que elas resultam das atitudes, dos procedimentos, das ações praticadas contra as leis divinas. Para aliviá-la existe a necessidade de assumirmos a responsabilidade de uma mudança comportamental, que sempre pode libertar-nos da dor, quando bem realizada segundo padrões éticos/morais cristãos.
    As provações da vida fazem adiantar quem as sofre, quando bem suportadas; elas apagam as faltas e purificam o espírito faltoso”.[2] Quando a dor chega, ninguém permanece indiferente, não importando suas causas. Por vezes, chega através da doença física, minando a saúde antes inabalável. De outras, é a dor da separação do ente amado que desencarna.
    De toda forma, não importando por quais caminhos a dor nos visite, sempre é presença contundente, alterando-nos as paisagens emocionais. Ela sempre traz consigo seu caráter pedagógico, em um convite ao cultivo das virtudes que ainda não nos dispusemos a acionar.  “As provas rudes são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus”.[3]
    Há três categorias de dor: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. A dor-evolução atua de fora para dentro, aprimorando o ser, e sem ela não haveria progresso. A dor-expiação vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça. Quanto à dor-auxílio, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. [4]
    O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitá­vel na Vida Espiritual. [5]
    A oração habitual, o comportamento retificador, o descortino mental e o bem que se pode patrocinar ao próximo, retratam as atitudes inteligentes daqueles que almejam o bom aproveita­mento da dor no processo de evolução .

    Referências bibliográficas:
    [1]            KARDEC , Allan . A Gênese, Cap. III, item 5, RJ: Ed. FEB 2001
    [2]            KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, item 10, RJ: Ed. FEB 2001
    [3]            Idem cap. XIV, item 09, RJ: Ed. FEB 2001
    [4]            XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação, ditado pelo Espírito André Luiz, cap. 19, RJ: Ed. FEB 1959
    [5]            Idem




    terça-feira, 28 de novembro de 2017

    O passe não modifica as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas (Jorge Hessen)


    Todo o encanto dos ensinos espíritas, oriundo da fé racional considerando o potencial do magnetismo pelo passe, desaparece ante as ginásticas pedantes e caricatas de tratamentos “espirituais” ultimamente praticados em algumas instituições espíritas mal administradas.
    Dos muitos disparates que já ouvi nas hostes espíritas de Brasília, um deles é que a aplicação do passe quando “concentrado" (concentrado???....!!!) e muito demorado pode causar "congestionamento fluídico” (congestionamento fluídico???...!!!) e com isso o assistido pode se sentir mal (sentir mal???...!!!) Acredite se puder!
    Ora, na aplicação do passe oferecido numa casa espírita bem dirigida, os Benfeitores manipulam e espargem os fluidos exatamente na quantidade necessária para cada assistido, nem mais, nem menos. Nunca em excesso.
    O passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, com malabarismos manuais, estalos de dedos, cânticos estranhos e, muito menos ainda, com passistas incorporados com “aconselhamentos” para o assistido.
    Por conseguinte, na aplicação do passe não se fazem necessários a gesticulação violenta, a respiração ofegante ou o bocejo contínuo, e que também não há necessidade de tocar o assistido. A transmissão do passe dispensa qualquer recurso espetacular.
    São ridículas as encenações preparatórias com as mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para “melhor assimilação” fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante – só servem para achincalhar o passe, o passista e o paciente.
    A transfusão sanguínea promove a renovação das forças biológicas. O passe é transfusão de energia psíquica e magnética. A diferença é que os recursos sanguíneos são extraídos de um reservatório limitado, mas os elementos psíquicos são retirados do reservatório interminável das forças espirituais.
    A transfusão ocorre através do períspirito, órgão sensitivo do Espírito, que interage de forma profunda com o corpo biológico, razão pela qual as energias psíquicas, transmitidas pelo passe e recebidas inicialmente pelos “centros de força”, alcançam o corpo físico através dos “plexos”, proporcionando a renovação das células enfermiças. As energias psíquicas poderão ser espirituais, considerando o magnetismo advindo dos desencarnados que participam dos processos, e fluidos humanos, através do magnetismo animal pertencente aos passistas encarnados.
    O passe é prece, concentração e doação. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, consegue o passista duas coisas importantes: primeiro, expulsar da mente os sombrios pensamentos remanescentes da atividade comum das lutas materiais diárias; segundo, sorver do plano espiritual as substâncias renovadoras a fim de conseguir operar com eficiência em favor do próximo.
    Por questão de bom senso, o passe deverá sempre ser ministrado de modo silencioso, com simplicidade e naturalidade. Todo o potencial e toda a eficácia do passe genuinamente espírita dependem do espírito e da assistência espiritual do passista e não apenas do passista. Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre os enfermos, a fim de beneficiá-los. E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos, que também a empregaram largamente nos tempos apostólicos.
    Vale relembrar aqui que apesar dos estranhos passistas que criam confusões ao aplicarem o passe, reconhecemos que muitos encarnados e desencarnados são beneficiados pela transfusão dos fluidos psíquicos, pois sabemos que é manifestação do amor de Deus, esse sentimento sublime que abarca a todos e os alivia.

    Importa-nos lembrar, porém, um pensamento de Chico Xavier: o passe, tal como terapia, não modifica necessariamente as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas.

    segunda-feira, 27 de novembro de 2017

    A criança livre é a semente do malfeitor (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    Bethany Thompson lutou contra um câncer no cérebro quando tinha apenas 3 anos de idade, e sobreviveu. A cirurgia que retirou o tumor foi um sucesso, mas deixou uma pequena sequela em seu rosto: a boca ficou levemente repuxada para a direita. Isso foi suficiente para ela se tornar alvo de comentários maldosos de outras crianças na escola. Bethany, 11 anos de idade, sofria bullying implacável na escola, até que chegou a um ponto em que não suportou mais e tirou a própria vida com um tiro. [1]

    Caso semelhante ocorreu no Colégio Holy Angels Catholic Academy, em Nova York, Estados Unidos. Aí estudava Daniel Fitzpatrick, um aluno de 13 anos, que estava sofrendo bullying. Resultado: Daniel acabou se suicidando. Deixou uma carta de despedida e dentre outros bramidos de dor moral escreveu: "Eu desisto"! Disse ainda que os seus colegas da escola o atormentavam há muito tempo e a direção do colégio não fazia nada a respeito, mesmo após ele e os seus pais terem feito uma reclamação formal. A resposta do Holy Angels teria sido "Calma, tudo vai ficar bem. É só uma fase, vai passar".

    Como esquecermos a chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, em que meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. O assassino Wellington Menezes de Oliveira, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra os alunos que o incomodavam. Numa fita gravada, Wellington alegou ter sofrido bullying anos antes, na mesma escola; neste caso houve uma reação violentíssima.

    O bullying é uma epidemia psicossocial e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade.

    Os fatos, chocantes e tristes, trazem dois alertas a todos os pais e mães: o primeiro deles é estar atento às mudanças de comportamento dos filhos e buscar ajuda profissional sempre que necessário. O segundo alerta é falar com o filho sobre o respeito às diferenças. Ensinar sobre diversidade e tolerância. Essas lições, quando assimiladas desde cedo, formam pessoas mais empáticas e sensíveis à dor do outro – além, é claro, de evitar comportamentos agressivos como o bullying.

    Urge estabelecer limites aos nossos filhos. Desde os primeiros anos, devemos ensiná-los a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.

    Crianças criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal-acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.

    Por isso mesmo, importa ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois a infância é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. A criança livre é a semente do malfeitor. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo.

    Pensemos nisso!

    Referência:

    domingo, 29 de outubro de 2017

    Angústia, consciência e reencarnação

    Angústia, consciência e reencarnação


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com


      O vocábulo angústia advém do latim angustia e significa estreiteza, espaço reduzido, carência, falta. Medo vago ou indeterminado, sem objeto real ou atual. É um temor intempestivo e invasor que nos sufoca (angere, em latim, significa apertar, estrangular) ou nos submerge.

    Na filosofia existencialista, a palavra "angústia" tomou sentido de "inquietação metafísica" em meio aos tormentos pessoais do homem. No conceito sartreano, “é na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade (…) na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em questão”.[1]

    Os materialistas sem norte acreditam que o ser humano é um ser imperfeito, aberto e inacabado. Segundo Heidegger, “a angústia é uma característica fundamental da existência humana. Quando o homem desperta para a consciência da vida, percebe que ela não tem sentido ou uma finalidade”. [2]

    Afastando-nos desse materialismo decrépito, compreendemos que pelo princípio da reencarnação as raízes intensas da angústia frequentemente encontram-se entrelaçadas no curso de vidas passadas, construídas na culpa do Espírito, que reconhece o erro e receia ser descoberto. Portanto, é um estado mórbido que deve ser combatido na sua causalidade.

    Por essa razão, a origem da angústia depressiva tem seu suporte no perispírito, e a rigor não tem raízes de causa na estrutura carnal. O corpo físico tão-somente reflete o estado da mente. O conflito do enfermo remonta a causas passadas, possivelmente remotas, com reverberação no presente através do psicossoma.

    Certificamos que as mortes prematuras traumáticas (acidentes, suicídios, homicídios) naqueles que possuem grande reserva de fluido vital, impõem fortes impressões e impactos vibratórios na complexa estrutura psicossomática, formando no espírito um clichê mental possante no momento da morte.

    Na reencarnação seguinte desse espírito, o amortecimento biológico do corpo carnal pode não ser suficiente para neutralizar os traumas registrados, em formas de flashes, dos derradeiros momentos da vida anterior. Essa distonia vibratória tende a reaparecer, guardando identidade cronológica entre as reencarnações. Os flashes impressionam os neurônios sensitivos do SNC (sistema nervoso central) e estes desencadeiam os angustiantes sintomas psíquicos via neurotransmissores cerebrais.

    Obviamente o uso dos fármacos pode estabelecer a harmonia química cerebral, melhorando o humor de tais espíritos; no entanto, cuidam simplesmente do efeito, pois os medicamentos não curam a angústia depressiva em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito físico das mensagens neuroniais, melhorando o funcionamento neuroquímico do SNC.

    Se os médicos muitas vezes são malsucedidos, tratando da maior parte das doenças fisiopsíquicas, é que tratam apenas do corpo biológico, sem acercarem-se dos traumatismos que os doentes apresentam na alma edificados em vidas anteriores.

    Jesus nos enviou como legado um dos maiores tratados de psicologia da História: a Codificação Espírita, cujos preceitos traz à memória humana a certeza de que apesar das chibatas visivelmente destruidoras da angústia, o homem precisa conservar-se de pé, denodadamente, marchando firme ao encontro dos supremos objetivos da vida, enfrentando os obstáculos como um instrumental necessário que Deus envia a todos nós.

     

    Referência bibliográficas:

    [1]SARTRE, J. P. O Ser e o Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica, trad. Paulo Perdigão Petrópolis: Vozes, 2002.
    [2] CHAUÍ, Marilena. Heidegger, vida e obra.  In: Prefácio.  Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

    segunda-feira, 16 de outubro de 2017

    Espírita!“Não desista jamais” (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com

    O homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o “impossível”. No ancião, por exemplo, a constância da curiosidade de espírito e da abertura ao mundo é um sinal de juventude duradoura. A conquista está na persistência daqueles que lutam por aquilo que vale a pena como ideal. Lutar é persistir e a perseverança é o caminho do êxito, por isso mesmo realiza o improvável.

    O evangelista Mateus regista no cap. 24 versículo 13 - "quem perseverar até o fim este será salvo". Ora, com Jesus no coração, diante de uma realidade desafiadora a nossa coragem não pode somente significar ausência do medo, mas a firme pertinácia apesar do receio. Sim! A vitalidade, a energia, o vigor, o trabalho são confirmados não apenas pela tenacidade, mas pela capacidade da perseverança e recomeço.

    A perseverança e a determinação são, por si sós, onipotentes. O aforismo “não desista jamais” socorreu e sempre salvará o homem da desesperança. E quando estamos sob inflexível indecisão, conseguiremos superá-la se em tais circunstâncias formos perseverantes, recatados e despidos de arrogância.

    Desistência tem sido a escolha de muitos em face da incômoda realidade que os fracassos e perdas lhes infligem, fazendo-os interromper ou recuar. Contudo, em cada um de nós existe pelo menos um resquício de esperança, que é capaz de nos transportar para a dimensão das possibilidades, nos fazendo acreditar numa iminente virada e o alcance do triunfo.

    Nossos sonhos precisam de persistência e coragem para serem realizados. Nós os regamos com nossos erros, fragilidades e dificuldades. Quando lutamos por eles, nem sempre as pessoas que nos rodeiam nos apoiam e nos compreendem. Às vezes somos obrigados a tomar atitudes solitárias, tendo como companheiros apenas nossos próprios sonhos.

    Há um mistério para a perseverança? Por que nos abalamos nalgumas ocasiões da vida e noutras não? A persistência poderia ser caracterizada pelo susto da alma, todas as vezes que é obrigada a mergulhar dentro de si mesma. Qual será o rumo da melhor direção, diante dos empecilhos, dos calhaus que encontramos em nosso caminho? Abdicarmos do objetivo, optar por outra situação mais fácil, ou perseverar em nossos planos, ainda mesmo que por longo tempo e árduas experiências que nos levem a prantear muitas vezes?

    Quem persiste sempre alcançará resultados e satisfações. Os grandes homens da história suportaram problemas por anos a fio, até conseguirem a concretização dos seus desígnios que fizeram deles vitoriosos.

    Persistência é a irmã gêmea da excelência. Uma é a mãe da qualidade, a outra é a mãe do tempo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis. E ademais, a nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda.

    Quando a Providência coloca pedregulhos em nossa caminhada, não o faz para esfolar-nos os pés, porém para aprovisionar material para a edificação da base de nossa conquista. O sucesso jamais poderá descansar na fragilidade das facilidades. As árvores são fortes porque enfrentam os desafios da natureza, e fincam suas raízes com vigor, na conquista dos elementos vitais. Com isso resistem a intensas ventanias.


    O “dia dos mortos” igualmente deve ser um dia de reverência à vida (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com

    A historiografia tradicional da Igreja romana registra que foi no Mosteiro beneditino de Cluny, no sul da França, no ano de 998, que o Abade Odilon promovia a celebração do dia 2 de novembro, em memória dos mortos, dentro de uma perspectiva religiosa. Somente em 1311, a “memória dos falecidos” foi sancionada oficialmente em Roma e, posteriormente, em 1915, Bento XV universalizou tal comemoração, dentre os católicos, expandindo e consolidando a celebração até hoje.

    Todavia, ajuizemos o seguinte: a ostentação dos túmulos fúnebres determinada por familiares que desejam honrar a “memória do falecido” ainda compõe o cardápio da soberba e orgulho dos parentes, que intimamente propendem fundamentalmente “honrarem-se” a si mesmos. Nem sempre é pelo “finado” que fazem todas essas demonstrações, mas por soberba, por apreço às convenções mundanas e, às vezes, para exibição de abastança. Ora, é inútil o endinheirado aventurar-se em eternizar a sua memória por meio de aparatosos mausoléus.

    A comemorada visita ao túmulo, em massa, não significa que venha trazer satisfação ao "morto", até porque sabemos que uma prece feita em sua intenção vale muito mais. Provavelmente a visita ao túmulo seja uma maneira de demonstrar que se lembra do Espírito ausente, contudo é a oração que abençoa o ato de lembrar; pouco importa o lugar se a lembrança é determinada pelo coração.

    Conhecemos diversas pessoas que requerem, antes mesmo de desencarnarem, que sejam sepultadas em tal ou qual cemitério da elite. Essa atitude, sem sombra de dúvida, demonstra deficiência moral, até porque qual seria a importância de um pedaço de terra, mais do que outro, para o Espírito moralizado?

    O bom senso cochicha que faz sentido rememorar com alegria e não lastimar os que já partiram, até porque eles estão plenamente vivos noutras dimensões da vida. Realmente a ideia de falecidos é uma mistura de alegria e dor, de presença-ausência, de festa e saudade. Porém, aos que permanecemos na vida física, cabe-nos refletir e celebrar a existência com amor e ternura, para depois, no além, quiçá, não amargar no remorso. Aos que partiram enviemos nossa prece, nossa gratidão, nossa saudade, nosso carinho, nosso amor!


    Se formos capazes de orar, com quietude e confiança, modificando a nostalgia em esperança, notaremos a presença dos parentes e amigos desencarnados entre nós, envolvendo-nos em seus sentimentos de gratidão, alegria e paz. Por este motivo e por muitas outras razões, transformemos o “dia dos mortos” do tradicionalíssimo 2 de novembro em uma experiência de veneração à vida, lembrando afetuosamente os que nos precederam de retorno à pátria espiritual, e também festejando os que conosco ainda peregrinam pelos logradouros da vida terrena.

    Abrigar e conviver com todos (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com

    O conceito de “minorias sociais” é usado de forma genérica para fazer menção a grupos sociais diferenciados por suas características étnicas, religiosas, cor de pele, país de origem, situação econômica, entre outros. Tais grupos estão associadas a condições sociais mais frágeis, razão pela qual sofrem discriminação e têm sido vítimas de extremas intolerâncias da chamada (maioria “normal”). 

    Não obstante haver no Brasil normas jurídicas que visam punir tal intransigência, mormente advindas dos grupos religiosos, é inadmissível qualquer intolerância no reduto espírita. A nossa Carta Magna assegura a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, a liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. 

    Prevendo ainda que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. Apesar da lei, há grupos, e aqui destacamos os grupos religiosos, promovendo o discurso do ódio, da violência, da discriminação contra os grupos LGBT, idosos, favelados, portadores de necessidades especiais, moradores de rua (quase sempre “invisíveis” aos olhos da sociedade, negros, indígenas, imigrantes e até mesmo contra as mulheres. 

    A Doutrina dos Espíritos entra no debate para reconhecer que uma civilização “normal” só é completa pelo seu desenvolvimento moral. Em face disso, os Benfeitores expuseram a Kardec: “Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções;... Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos (...).”[1], Portanto, à medida que a sociedade se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão com o progresso moral. 

    Referência bibliográfica: 

    [1] KARDEC, Allan. O Livros dos Espíritos, per. 793, RJ: Ed. FEB, 2000

    sexta-feira, 13 de outubro de 2017

    O “Pacto Áureo”, um livro, uma estratégia, um arremedo doutrinário (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com

    O fustigado “Pacto “áureo” não DEBATIDO” foi uma agenda com dezoito itens, imposto pela FEB , sendo que no primeiro item constava: “Cabe aos espíritas do Brasil colocarem em prática a exposição contida no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”.
    Dizem que os pactuantes temiam a CEPA que suprimira o Cristo dos seus cânones ideológicos. Há os que dizem que a adoção do livro Coração do Mundo Pátria do Evangelho, pode ter dois pretextos, o primeiro porque um grupo dos que discutiram a questão queria adotar “Os Quatro Evangelhos”, o segundo porque os “partidários” da CEPA (Confederação Espírita Pan-Americana ) não aceitavam e nem aceitam o Evangelho Segundo O Espiritismo, nesse caso ,portanto, o livro de Humberto de Campos estaria na linha de equilíbrio e colocava o Brasil uma posição central da expansão do Evangelho.
    Será mesmo? Foi isso que os levou a assinar sem discussão o famigerado pacto do qual Herculano Pires batizou de “bula papalina”? Ou será que o excesso de misticismo criara sentimento de culpa e os pactuantes passaram a admitir infalibilidade no presidente da FEB? Ou será que a presença autocrática de Wantuil (que foi uma espécie de “proprietário absoluto” da FEB) teria entorpecido a consciência dos signatários ? Ou será que careciam todos os pactuantes de maior amadurecimento doutrinário? Uma coisa, porém, temos certeza absoluta: se Herculano Pires, Deolindo Amorim, Júlio Abreu Filho tivessem participado da “encantada” reunião febiana de 1949, outro teria sido o rumo das definições doutrinárias para o Brasil.
    Pois é! Volvamos aos signatários do Pacto que concluíram sem melhor DEBATE e maturação de que o livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho continha dados atraentes e explanava qual seria a missão do Espiritismo no Brasil. Porém os pactuantes não se preocuparam com os detalhamentos ufanistas e controversos do livro, talvez aí o “X” da questão.
    Não levantamos este ponto para contestar os conteúdos originais da obra (os que não foram alterados por agentes externo ao texto legítimo). Infelizmente é difícil provar materialmente a interpolação porque a psicografia original (escrita e datilografada) foram incineradas pela FEB. Urge ressaltar aqui que apreciamos a literatura de Humberto de Campos (sem as diversas inserções febianas, é óbvio!), e tem mais, urge apartar bem as coisas, pois a ingênua entronização de Roustaing pelo suposto “autor espiritual” contraria o pensamento de Kardec contido no Cap. XV da obra A Gênese.
    O rustanismo conseguiu, graças a pouca discussão mais inteligente, ganhar adeptos entre os “místicos”. Se jamais os prepostos, e muito menos o seu líder, afirmaram que na obra de Roustaing estava o verdadeiro sentido da vida e doutrina de Jesus, também omitiram assertiva em contrário. Acreditavam, talvez, se tal fizessem, perderiam o tempo e apagariam a leve chama de uma fé doutrinariamente insipiente, que cumpre alimentar cuidadosamente. A obra de Roustaing concorreu e ainda concorre para dividir os espíritas (pelos menos dentro da própria sede da FEB na Av. L-2 norte de Brasília ou a cúria candanga) e criar dificuldades invencíveis à desejada harmonia de vistas.
    Como vemos, foi uma estratégia precipitada do suposto autor espiritual, a nosso ver, citar o emblemático João Batista Roustaing como “organizador” do trabalho da “fé espírita” ao lado de um Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica e de Camille Flammarion, que abriria a cortina dos mundos. Óbvio que não houve critério mais acurado, segundo cremos.
    A questão é que o suposto “Humberto de Campos” evoca “as tradições do mundo espiritual”, conforme o próprio autor espiritual assevera na Introdução do livro “Brasil, coração do mundo…”. Obviamente esse argumento de “tradições de além” não esclarece, e sequer abona, as ingerências da obra. E isso fica claro se compararmos o livro “Brasil, coração.do mundo…” com “Crônicas de Além-Túmulo” e “Boa Nova” de autoria do mesmo Espírito, nos quais Humberto de Campos utiliza de algumas informações obtidas das chamadas “tradições do mundo espiritual”, mas sem cometer os vários lapsos presentes em “Brasil, Coração do Mundo…”. A propósito da obra “Crônicas de Além-Túmulo” no capítulo 21 intitulado “O Grande Missionário” , publicado antes de “Brasil, coração.do mundo…”, são citados como colaboradores de Allan Kardec somente os missionários Camille Flammarion, Léon Denis e Gabriel Delanne, sem nenhuma menção a Roustaing. Isso indica uma interpolação febiana muito ingênua na obra “Brasil Coração do Mundo…”
    Tornemos ao tal “pacto áureo”. Na cláusula segunda do “Acordo do Rio de Janeiro” ficou decidido que a FEB criaria um Conselho Federativo Nacional permanente, com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua Organização Federativa. Com efeito, em janeiro do ano seguinte instalou-se o Conselho Federativo Nacional (CFN), congregando os representantes das Federações Espíritas Estaduais signatárias com o objetivo de promover e trabalhar pela “união” dos espíritas e pela “unificação” do Movimento Espírita.
    Em verdade, com a instalação do Conselho Federativo Nacional na FEB houve a primeira eclosão dos instintos vaticanistas. O CFN começou a baixar bulas papalinas sobre questões doutrinárias, a conceder licenças para realização de concentrações e congressos e a negar aos jovens o direito de deliberar em seus movimentos, etc.
    Para a tentativa de “união” dos espíritas , durante a década de 1950, houve um trabalho de convencimento junto às entidades espíritas sobre a importância e as diretrizes da tarefa de organização e unificação do movimento espírita brasileiro. A tarefa coube ser realizada, principalmente, pela chamada “Caravana da Fraternidade”.
    Em 31 de janeiro de 1950, o grupo “fraternista” partiu do Rio de Janeiro com destino a Salvador, e depois a todas as capitais dos 11 Estados do Nordeste e Norte do país. Dentre os planos da missão estavam as finalidades da maior “aproximação dos espiritistas”, visando o ideal da “unificação social” da Doutrina, da divulgação cultural do Espiritismo na sociedade laica e estímulo às obras de assistência social.
    Entretanto, a rigor, o Conselho Federativo Nacional, como vimos alcunhado de “pacto áureo”, que, a bem da verdade , não passou e não passa de um bucólico e inexpressivo departamento da Federação Espírita Brasileira, sem maior significância, sem poderes sequer de compor o “conselho superior” da cúria candanga, sem autorização para eleger o próprio presidente da autoproclamada “casa mãe”. Coisa de brasileiro mesmo! Hoje a burocrática reunião do CFN só serve para cansativas leituras de relatórios de atividades executadas nas regiões além , é claro, para as tradicionais palestras do nonagenário Divaldo Franco, sempre culminando com o “ente” “Bezerra de Menezes” psicofonado.
    Os espíritas estão unidos? Dez anos após o infligido “Pacto” foram realizados Simpósios Regionais e alguns congressos para endinheirados , na tentativa de “união” e “unificação” do Movimento Espírita Brasileiro. Atualmente o CFN reúne-se ordinariamente uma vez por ano na sede da “basílica” da FEB em Brasília, durante três dias, para tratar de assuntos burocráticos (leituras fadigosas de relatórios de atividades regionais). Não há como deixar de reconhecer que infligido pacto com a FEB, as federativas submeteram-se ao Conselho Federativo Nacional e através dele a fantasmagórica “casa mãe” começou a baixar bulas papalinas sobre a Doutrina e decretos cardinalícios sobre a organização do M.E.B.
    No princípio do processo “unificacionista” houve atritos sérios da FEB com Federações estaduais, contudo o pacto continua em vigor. Um contra-senso evidente. O movimento livre das federativas entregou-se à FEB, retornou ao jugo da carne, segundo expressão do apóstolo Paulo aos hebreus (cristãos judaizantes). As estruturas abalaram e as antigas federativas suicidavam-se num pacto imposto, entregando-se atualmente aos rabinos do templo candango, ou se desejarem, entregando-se aos bispos da cúria brasiliense.
    A vaidade humana e a generalizada ignorância da verdadeira estrutura filosófica da doutrina alimentam sem cessar essas dissidências em gestação. Precisamos, por isso mesmo, estabelecer as linhas do pensamento doutrinário sempre de maneira bem clara, alertando os que realmente desejam ser espíritas, contra os atalhos do caminho.
    O que se observa no Movimento Espírita no Brasil é um sistema federativo unilateral da FEB se impondo como a poderosa instituição possuidora da maior chancela doutrinária e procurando atuar no campo espírita como porta-voz “autorizada” (por Jesus ? por Kardec ? por Humberto de Campos ?). 
    Em virtude desse grave equívoco histórico e daqueles que são contrários a atual situação quando todos se curvam à “supremacia” febiana, é que indagamos , até quando será imposta a hegemonia febiana no Brasil? Precisamos de fraternidade, solidariedade, trabalho e tolerância e não de sujeição passiva a pretensas autoridades doutrinárias que se arrogam o direito de dirigir o movimento espírita brasileiro.
    É justo informar que salvo engano todas ou quase todas as Entidades que, direta ou indiretamente integram o CFN (Entidades Federativas Estaduais, Entidades Especializadas de Âmbito Nacional, Centros e demais Sociedades Espíritas), não adotam as obras de Roustaing, embora mantêm a sua “autonomia vigiada”, independência restrita e liberdade de (re) ação,  ( meno male– menos mal).